O bosque dos sonhos inimagináveis
Vem chegando o frio bem devagar e um bom tanto de lançamentos por aqui também. Acompanhe os destaques dos próximos dias:
Dylan Thomas por Caetano Galindo
Under Milk Wood foi a última obra de Dylan Thomas, mas, em muitos aspectos, o ápice de todas elas. Foi escrita para o rádio e contada por meio de narração e uma série de personagens excêntricos. Você as observa "pelos olhos" do cego Capitão Cat, testemunha as atividades cotidianas da pequena cidade galesa de Llareggub e acaba se apaixonando por elas, apesar de suas falhas.
A obra foi traduzida por Caetano Galindo, trabalho que é fruto da conversa entre o tradutor e Alison Entrekin, que abre a edição brasileira com um belo descritivo de como se deu o caminho até chegarmos ao livro publicado. Leia a nota na íntegra!
Nota
Alison Entrekin
20 de novembro de 2024
1980. Durante uma visita ao País de Gales, meus pais nos levam para ver a cabana à beira de um lago onde Dylan Thomas compôs grande parte de sua obra. Neste momento, para mim, Dylan Thomas não passa de um nome; mas a imagem de seus óculos ao lado de uma garrafa de vinho vazia sobre uma mesa rústica me intriga.
1984. Encenamos Under Milk Wood na escola. A linguagem de Thomas encontra território fértil em cérebros adolescentes e passa a fazer parte da nossa memória afetiva da literatura. Até hoje, se um de nós disser: It is spring, moonless night in the small town, outra pessoa dirá starless and bible-black e outra ainda acrescentará the cobblestreets silent and the hunched, courter's-and-rabbit's wood limping invisible down to the slowblack, slow, black, crowblack, fishingboat-bobbing sea. Daqui em diante, terei inveja de quem ainda não leu o livro, pois a magia ainda está pela frente.
2014. Under Milk Wood ficou adormecido na memória durante trinta anos, mas com o meu atual projeto uma nova tradução de Grande Sertão: Veredas para o inglês - ando vasculhando tudo que já li, tentando encontrar livros com as mesmas preocupações formais que a obra-prima de Guimarães Rosa. Na estante, localizo Under Milk Wood, tão amarelado que mal dá para ler. A linguagem parece sim ter parentesco com a escrita do Rosa: a textura e a densidade são parecidas. Comento isso com o Caetano Galindo, que acabo de conhecer na Escola de Inverno de Tradução Literária, em Paraty.
2023. Mando uma mensagem pro Caetano avisando que a obra de Thomas entrará em domínio público em 2024. Ninguém melhor para a tarefa, penso eu, dado seu gosto por traduções absurdamente difíceis (Joyce, Carroll, Pynchon, etc.). Nessa altura, já estivemos juntos em pelo menos três mesas intituladas "Traduzir o intraduzível", e temos anos de mensagens trocadas sobre enigmas da tradução literária (quanto mais cabeludos, melhor.) Sinto que pertencemos a uma seita secreta de tradutores que encontram a felicidade máxima em meio aos quebra-cabeças linguísticos mais complexos. E, podem acreditar, Thomas está ali com Joyce e Carroll em termos de dificuldade.
2024. Não falamos mais sobre o assunto, até que um dia, meses depois, a tradução inteira aparece na minha caixa de entrada. E eis que não preciso mais invejar aqueles que ainda não leram Under Milk Wood porque agora tenho de novo o privilégio de poder ler Ao pé do bosque torto pela primeira vez, agora reimaginado ou "transcriado", para usar o termo inventado por Haroldo de Campos em português por um dos mais brilhantes tradutores literários do Brasil. Leio em voz alta e as ruas de pedras fervilham com as vidas secretas dos habitantes da vila miúda, numa noite deslua, tal qual no original.
Em breve, Ao pé do bosque torto chega no site da Arte e Letra e também nas livrarias, em edição artesanal.
Flávia Farhat com Os sonhos dos outros
Flavia Farhat publica seu segundo livro pela Arte e Letra. Depois de Uma vida vida, a autora lança entre o fim de abril e início do mês de maio Os sonhos dos outros, uma coletânea de contos que é um mergulho nas torções da realidade. Entre personagens memoráveis e seus universos particulares, Flavia conduz o leitor por histórias onde o inexplicável se insinua na rotina. Confira a sinopse dos textos:
Em “roxos rosas verdes”, Carlota entendia as emoções através de um anel do humor, que mudava de cor de acordo com as emoções das pessoas, até que ele se perde e, sem referências, Carlota se faz um espelho de rostos alheios para saber, afinal, como sentir. A seguir, “ao centro, o astro rei, rodeado pelos seus planetas”, conta sobre uma observadora que persegue um astro errante, perdendo-se na vastidão do céu e na vertigem de sua própria obsessão. Já em “as horas”, Laurentino, gêmeo siamês, mestre da manipulação do tempo e do pó compacto, tem no tédio um portal insuspeito para o extraordinário. Por fim, em “os sonhos dos outros”, Rosária, condenada a sonhar sua filha noite após noite, vê-se trilhando um destino tecido no intervalo entre o sono e a vigília.
Sutil e potente, Flavia Farhat costura narrativas que oscilam entre o real e o fantástico — uma pequena/grande coletânea feita de quatro contos que convidam o leitor a explorar a vertigem das pequenas fissuras da existência.
Em breve o convite para o lançamento!
Curitiba inimaginável por seus escritores
Curitiba Inimaginável é uma coletânea de contos composta pelo trabalho de escritores e fotógrafos da cidade. Com projeto executivo e organização de Ana Cardoso, o lançamento acontece no dia 26 de abril. Em breve mais informações sobre o evento de lançamento!
Até breve!